Um pequeno retrato da história profissional da estilista Patrícia Carvalho
Ano de Início das Atividades Profissionais de Patrícia Carvalho: 2005
Ramo de Atuação: Moda Feminina
Localidade: Rondonópolis, Mato Grosso, Brasil
Período em que os relatos se passaram: de 2055 a início de 2011.
Autora do Texto: Daniele C. E. Monteiro Arguelho, publicitária, analista de mercado
Data do Texto: Março/2011
Obs.: O texto foi escrito como trabalho prático do curso de Escrita Eficaz, realizado pelo SEBRAE-MT
Prefácio
Quando a roupa expressa valor, personalidade, comportamento, deixa de ser apenas um componente do ato cotidiano de vestir para se tornar em uma experiência que nos distingue na multidão.
A proposta de valor apresentada pela estilista de moda Patrícia Carvalho, de Rondonópolis-MT, é conceitual e expressa a sua busca pessoal de contribuir com o bem de nosso planeta e de nossa própria história.
Sua trajetória profissional revela como uma artesã da costura pode se tornar uma empresária de sucesso, ao aliar criatividade e sensibilidade à busca pelo conhecimento.
Perfil
Contadora de formação, Patrícia Carvalho sempre teve a moda como sua grande paixão. Herdou as habilidades de costurar da mãe e da avó e desde os seus 12 anos já desenvolvia trabalhos manuais e confeccionava seus próprios figurinos, inclusive em algodão cru, acalentando o sonho de se tornar uma profissional da área.
Natural de São Joaquim da Barra/SP, casada e mãe de lindas meninas, foi em Rondonópolis, cidade pólo da região sul de Mato Grosso, que Patrícia tornou-se uma estilista de sucesso, quando em 2005 desenvolveu sua grife com uma proposta ecológica e criativa, confeccionando peças em algodão cru.
Diferente da maioria dos estilistas, Patrícia não desenhava. Seus modelos eram feitos como esculturas, como arte experimentada à mão, junto à máquina. "O processo criativo é mais ou menos como o de um artista plástico. Pego os materiais e vou modelando aos poucos. Tenho a imagem na minha mente e dou forma prática já com os panos, linhas e adereços”, explicava a estilista.
O início
Patrícia Carvalho tinha como marca registrada a ousadia de transformar o comum em original.
Tudo começou quando resolveu aproveitar alguns panos de saco de algodão cru rústico - sobras que conseguiu de uma Cooperativa de sua região - para fazer uns figurinos diferenciados para si mesma.
Ela só não podia prever o quanto os seus modelos seriam cobiçados nas ruas e o quanto essa atitude mudaria a sua vida. “As pessoas me cercavam e me perguntavam onde eu tinha comprado”, lembrava Patrícia, satisfeita.
Tendo esse fato se repetido por inúmeras vezes e também incentivada pela equipe do SEBRAE em Rondonópolis, que conseguia enxergar a proposta de valor de suas roupas e o nicho de mercado a ela correspondente, Patrícia começou a visualizar na criação de seus figurinos mais que uma oportunidade de negócios, a materialização de seu grande sonho. Logo aceitou o desafio de apresentar as suas criações em um grande evento local do setor de confecção.
Patrícia, que no início de sua carreira participava de uma cooperativa de tecelãs, conseguiu o seu primeiro volume significativo de matéria prima, impedindo que seu marido cumprisse o favor de descartar, para a Cooperativa da região, uma pick-up de sacos de algodão cru. Era final de ano, época de Natal, e o seu primeiro carregamento de tecidos encontrava-se na caminhonete de seu marido, estacionada em sua garagem.
Daquele momento em diante, sua casa passou a ser também o seu ateliê e a sua loja. Uma pequena boutique cheia de estilo, com simpáticas araras confeccionadas por ela mesma, com caixas de madeira de feira reaproveitadas.
O dilema de nunca ter sido empresária e o desafio de atuar profissionalmente levou a nova estilista a estudar moda, para ter um produto de alto padrão.
Apoiada pela mãe que sempre a ajudou muito, inclusive na composição das peças, Patrícia iniciou a sua trajetória profissional aproveitando todas as oportunidades oferecidas para as empresas participantes do Arranjo Produtivo Local (APL) de Confecção de sua região, como rodadas de negócios, desfiles, missões empresariais e consultorias. Tudo o que o SEBRAE e as entidades apoiadoras do APL do setor ofereciam, Patrícia participava ativamente.
"Iniciei fazendo roupas para uso pessoal, mas recebi incentivo de entidades ligadas ao setor empresarial e comecei a produzir também para venda. Hoje, posso dizer que estou no mercado e conquistei um nicho de roupas e acessórios exclusivos, feitos de algodão cru, que não existe em nenhum outro canto do mundo. É uma novidade no mercado brasileiro e internacional, e tem grande valor agregado. Mesmo utilizando matéria-prima simples, como algodão e bordados, as roupas são consideradas de alta costura - pela originalidade e qualidade da produção”, ressaltava orgulhosa a estilista.
Patrícia fez viagens para Paris e Milão, as capitais internacionais da alta costura, aprendeu muito sobre design de moda, mas o que lhe rendeu mídia espontânea e notoriedade inicial foram as aplicações de filtros usados de café aos seus belos modelos de algodão cru rústico.
Os filtros de café usados eram recortados, recebiam uma camada de resina de cada lado, e posteriormente eram aplicados às roupas em diversos desenhos, em forma de flores e de retalhos, que se assemelhavam ao couro, dando às peças aspecto único e sofisticado, oriundos do tom castanho e da textura dos filtros reciclados.
Era o começo do posicionamento de sua marca.
Depois das flores, os frutos
Ao impor às suas peças uma característica única, com insumos ecológicos e criativos, Patrícia Carvalho ficou logo conhecida por fazer moda cultural e ecológica.
"... A moda que desenvolvi, tendo como ponto de partida o algodão cru rústico, naturalmente colorido e fiado em rocas manuais, ressalta e valoriza a cultura do meu Estado Mato Grosso e resgata técnicas artesanais quase esquecidas, como o bordado, o crochê e a tecelagem. Tudo desenvolvido dentro de um contexto de preservação da cultura e da natureza", enfatizava Patrícia.
Sua paixão pelo algodão, aliada à sua imaginação, deram origem a uma marca que estabeleceu novos conceitos para a alta costura. A rusticidade do tecido, combinado a flores, sementes e fitas, dava um tom de alegria e romantismo às peças que cada vez mais iam conquistando adeptos apaixonados pelos conceitos de afeto, brasilidade e consciência ecológica.
Seu mix inicial incluía batas, vestidos, calças, e logo iriam evoluir para trajes de festas e casamentos.
Para acompanhar os modelos, entraram em sua linha de produção também os acessórios como bolsas, carteiras, pulseiras, chapéus, enfeites de cabelo, faixas e até lingerie.
As pulseiras, por exemplo, eram feitas de aproveitamento de garrafas Pet e revestidas com retalhos de tecidos de algodão, sobras de fitas, sedas, cetins e rendas. Detalhes de pura criatividade feitos a partir de resíduos que iriam para o lixo.
Com o intuito de oferecer mais experiência às suas clientes, Patrícia também teve a ideia de perfumar as suas roupas com uma essência aromatizante de algodão, batizada de 'cheirinho' de Mato Grosso, que logo virou produto da marca, hoje comercializado em frascos com borrifador de ambientes e roupas. "Foi uma demanda que surgiu e acabou virando a sensação de quem consome os produtos Patrícia Carvalho", enfatizava, a estilista.
As roupas também ganharam uma embalagem em sacos de algodão, com um tratamento todo diferenciado para que suas clientes pudessem levar para a casa todos os seus conceitos apropriadamente embalados.
Hoje a sua produção passeia por um mix que vai desde as roupas mais informais e mais leves, que sugerem alegres manhãs ensolaradas ou momentos de pura preguiça, até as roupas de festa, cheias de brilhos, próprios das noites sedutoras de glamour.
Subindo os degraus
Os primeiros desafios vieram quando começaram os pedidos oriundos das primeiras rodadas de negócio que participou. Em uma delas conseguiu encomendas de lojistas de Brasília e Maceió.
Foi quando veio a pergunta: E agora, como produzir em maior escala para atender todos os pedidos?
Patrícia chegou a ter algumas costureiras trabalhando com ela em sua casa, mas o caminho que posteriormente amadureceu e escolheu, com base nos conhecimentos que adquiriu, foi o da terceirização.
Sempre em busca de melhorar a gestão de seu negócio, Patrícia participou de diversas missões técnicas que também contribuíram muito para o seu crescimento profissional.
Envolvimento com o setor
Grande parte do fomento da cadeia produtiva da moda em Mato Grosso sempre veio do apoio de entidades ligadas aos APLs de Rondonópolis e de Cuiabá e Várzea Grande, os dois principais pólos de produção do Estado.
Segundo Patrícia os arranjos produtivos sempre foram fundamentais para a qualificação do empresariado local e para o acesso a novas tecnologias e formas de produção.
A inspiração de Maria Sete Voltas
Um momento especial de sua carreira ocorreu quando foi convidada para desenvolver o figurino da personagem Maria Sete Voltas, para o ensaio fotográfico de Valter Arantes.
Lembrada por suas roupas coloridas, Maria, como era chamada, viveu em Rondonópolis nas décadas de 60 a 80. Temida pelas crianças pelos seus momentos de embriaguês, tornou-se uma figura lendária por sua extravagância e personagem real do livro de Valter Arantes. As fotos, produzidas no Hotel Glória, no Rio de Janeiro, foram encenadas pelas atrizes Silvia Pfeifer, Totia Meireles, Babi Xavier, Lady Francisco, Milena Toscano, Flávia Monteiro e Vanessa Machado.
No curso desse projeto uma chuva colorida recaiu sobre a imaginação de Patrícia. “Tive o prazer de trabalhar com Valter na criação do figurino para as fotos, que foi um desafio, pois em meu trabalho uso cores neutras e cruas, contrapondo com o estilo de Maria, que era exagerada em mistura de cores e acessórios”, explicava a estilista.
Novos degraus
Vivendo essa ebulição de criatividade, os figurinos de Patrícia iam conquistando adeptos por onde circulavam até que uma história curiosa a aproximou de uma lojista de Cuiabá, que logo viria a ser uma de suas principais compradoras por quase três anos.
Para chegar até Patrícia, a compradora abordou uma de suas clientes que circulavam por um dos shoppings em Cuiabá, para perguntar onde ela havia comprado aquela roupa...
Em 2007 suas peças ganharam as passarelas da Fashion Rio, um dos eventos mais importantes da moda na América Latina.
Dentre outros eventos que lhe agregaram mais conhecimento, bons contatos e negócios estão o Rondonópolis Está na Moda, o Capital Fashion Week, o Seminário Internacional de Comércio Justo, o Seminário de Design Ecológico, o Congresso Varejo que dá Certo, o ENART- Encontro de Negócios de Artesanato do Mato grosso, a Exponegócios e a Expobrasil.
Em 2009, Patrícia lançou em Rondonópolis, Cuiabá e São Paulo a coleção festa, que logo despertou o interesse também das clientes em via de casamento. “As noivas nos procuravam querendo um vestido diferente, especial e consciente", contava Patrícia
A profissional foi se destacando no cenário da moda e foi protagonista de várias matérias na mídia, cabendo destacar uma bela reportagem no programa Pequenas Empresas Grandes Negócios.
O negócio atingiu uma produção de 150 peças por mês e um crescimento de 30% por ano. Até que veio mais um desafio a ser superado: o rompimento da relação comercial com a sua principal compradora em Cuiabá.
Sem poder garantir exclusividade para um único comprador, e constatando o fortalecimento e a valorização de sua marca e de seus figurinos, Patrícia começou a idealizar a abertura de uma loja conceito, fora de Rondonópolis.
Após cinco anos atuando de forma autônoma, ela finalmente começou a dar passos mais concretos rumo à formalização. Nessa fase Patrícia foi abordada por uma de suas clientes, que também era empresária do ramo de confecção, para se associar na abertura de um ponto comercial em Cuiabá.
Aceito o desafio, agora com uma sócia, a loja foi inaugurada em fevereiro de 2010, próximo à Praça Popular, no bairro Goiabeiras, em Cuiabá, em uma casa antiga, bem cuiabana, em um ponto nobre da capital mato-grossense.
A sócia entrou com a responsabilidade dos investimentos financeiros necessários para reforma da casa e divulgação. Patrícia entrou com o trabalho de composição das linguagens e conceitos do ambiente, do produto e também com a produção das peças.
“Eu queria preservar ao máximo a rusticidade da casa e de seus ladrilhos originais. O toque contemporâneo foi dado por meio dos móveis e da iluminação”, lembrava Patrícia.
A loja foi um sucesso. O nome de Patrícia ganhou espaço na mídia local e certamente o seu ápice profissional aconteceu com a abertura dessa linda loja, recheada de mimos, cuidadosamente preparados. Cuiabá passou a conhecer mais de perto o trabalho da artesã de costura que virou estilista de moda e o figurino dessa artista circulou nos mais diversos cenários sociais da capital mato-grossense.
Contudo, a relação comercial com a nova sócia impôs algumas limitações à estilista. A marca deixou de ser simplesmente Patrícia Carvalho e passou a se chamar PANÔ, by Patrícia Carvalho. Após essa primeira pontinha de insatisfação muitas outras diferenças entre as sócias surgiram, inviabilizando a continuidade desse sonho, que há poucos meses precisou ser momentaneamente recolhido à incubadora, para ser novamente fortalecido e nutrido, de modo a nascer de forma saudável e com toda a alegria característica da estilista.
Otimista e sempre geradora de boas ideias, Patrícia sabia que a hora de sua loja conceito nascer para valer, iria chegar, porém, de forma solo, respeitando seus valores e estilo.
Em meio a esse período turbulento que vive, a guerreira sonhadora recolheu os aprendizados do ousado voo e como uma boa vara de bambu lançou em outubro/2010 uma nova coleção desenvolvida em malha de algodão orgânico, que já nasce colorido.
O objetivo estratégico com essa coleção era o de inserir ao seu mix de oferta um produto mais competitivo que pudesse dar mais velocidade aos negócios.
No início de 2011 a estilista recebeu consultorias para melhorar a produtividade do seu negócio e relançou o ateliê em Rondonópolis com o novo nome “Studio Patrícia Carvalho”.
Como será o amanhã?
As oportunidades são muitas no mundo da moda, tão carente de novidades. Um prato cheio para a estilista que conseguiu carimbar o seu nome no setor, com uma proposta diferenciada e inovadora de vestir.
Em seu antigo blog Patrícia adotava uma frase que retrata bem a forma como ela ainda posiciona a sua arte de transformar roupas em negócio de sucesso: “A vida é um tecido. Tudo e todos são como fios que se conectam. O bem que praticamos em nosso pequeno mundo tem reflexo em todo o Universo” (Ong Econtece).
O resgate de técnicas artesanais que levam seus consumidores a lembranças afetivas, o caimento impecável dos modelos a cada tipo físico, a criatividade e o bom gosto com que são celebradas a união dos tecidos crus de algodão e das malhas e rendas, com sementes, filtros de café reciclados, garrafas pet, fitas e brilhos, e o compromisso firmado com a beleza e com a feminilidade, tão inerentes à moda, revelam o cuidado e a singularidade com que o trabalho de Patrícia é esculpido.
A estilista costuma resumir seu trabalho com a seguinte expressão: “Outro olhar, outra beleza. Sente e faz outro belo. Algodão reflete muito mais do que você pode imaginar!”
Com essa alma, certamente o futuro reserva muitas surpresas boas para esta empresária, cujas roupas peculiares e cheias de história refletem os vínculos duradouros de relacionamento com seus clientes.
Onde encontrar Patrícia Carvalho
Av. Governador Julio Campos, 495, Bairro Santa Marina – Rondonópolis/MT.
Tel.: (66) 9984 5388 / E-mail: patriciacarvalho.br@terra.com.br
http://www.porpatriciacarvalho.blogspot.com/
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